O pé diabético é uma das complicações mais comuns nos pacientes diabéticos e ocorre em consequência a um conjunto de alterações que o diabetes provoca nos membros inferiores, como: lesões nos nervos (levando ao desenvolvimento de Polineuropatia diabética), alterações na circulação arterial (levando ao desenvolvimento de Doença Arterial Obstrutiva Crônica) e até mesmo deformidades nos ossos do pé.
Segundo a Dra. Alana Santos, médica do Hospital das Nações, essas alterações, por sua vez, levam à diminuição da sensibilidade e da circulação nos membros inferiores, principalmente nos pés, o que predispõe ao surgimento de úlceras (feridas profundas) que podem infectar, dificultando a cicatrização e levando a sérias complicações, algumas vezes sendo necessária a amputação. “Os principais fatores de risco para o desenvolvimento do pé diabético são a polineuropatia diabética e a doença arterial periférica que, associados a traumas em membros inferiores, favorecem o surgimento de feridas e úlceras que infectadas podem trazer várias complicações, podendo culminar com desfechos maléficos, como a amputação”, destaca.
Entre os sintomas do quadro de pé diabético, estão: pulso fraco nos pés; pés frios, com pele fina, brilhosa e descamativa; perda de pelos na região de pernas e pés; dor, queimação, dormência ou formigamento em pernas e pés (que podem piorar à noite, ao deitar); diminuição da sensibilidade ao calor e frio em pernas e pés; fraqueza em pernas e pés; alteração na maneira como o paciente apoia o pé no chão; manchas vermelhas, feridas, bolhas ou úlceras em pés. “Todas essas complicações (polineuropatia diabética, doença arterial obstrutiva crônica…) são consequências de um diabetes mal controlado, em que o paciente permanece por longos períodos com hiperglicemia (‘açúcar alto no sangue’)”, explica a Dra. Alana.
Em relação ao diagnóstico, a médica esclarece: “Infelizmente, o paciente geralmente só se dá conta quando está em um estágio avançado e quase sempre está com uma ferida infectada, o que torna o tratamento mais difícil. Mas, podemos por meio do reconhecimento precoce e do manejo dos fatores de risco, reduzir o aparecimento de ulcerações e lesões graves do pé, que trarão sequelas potencialmente graves”, enfatiza.
No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam que 70% das cirurgias são para amputação de membros inferiores (pernas, pés, dedos dos pés) e a principal causa é o diabetes mal controlado, responsável por 55 mil casos.
Segundo a médica, a Polineuropatia Diabética e a Doença Arterial Obstrutiva Crônica podem ser identificadas precocemente por meio de exame físico cuidadoso dos membros inferiores, principalmente dos pés, bem como por meio de exames complementares. “Além de procurar ajuda médica logo que perceber os primeiros sintomas, realizar o autoexame também é muito importante. O paciente deve examinar seus pés diariamente em um local com bastante luz, observando a existência de cortes, rachaduras, calos, frieiras, feridas, alterações de cor da pele (se está arroxeada) e das unhas (se demoram a crescer), e ausência de pelos. Quem não tiver condições de fazê-lo, precisa pedir a ajuda de alguém. Nas consultas, sempre avisar ao médico se tiver alguma alteração ou dúvida”, orienta Dra. Alana.
O tratamento do pé diabético está no controle das complicações do diabetes. Por isso, é importante manter a taxa de glicose sempre controlada, por meio do uso correto das medicações, dieta balanceada, atividade física e acompanhamento clínico endocrinológico adequado. “Na existência do quadro de pé diabético, há necessidade de tratamento
especializado: uso de antibióticos; medicação anti-inflamatória; tratamento local das feridas com medicação, curativos especiais, intervenção cirúrgica dependendo do grau das úlceras e feridas como desbridamento da ferida ou podendo chegar à amputação; reabilitação funcional do membro afetado”, destaca. “Mas o melhor tratamento é a prevenção: níveis glicêmicos sob controle; neuropatia e doença vascular sob tratamento e acompanhamento médico especializado; evitar o tabagismo; ter cuidados especiais com o pé ( pés sempre limpos; enxugar bem entre os dedos (para evitar frieiras); usar toalhas macias; lavar com água morna, evitando água quente devido ao risco de queimaduras; hidratar os pés com cremes emolientes; usar meias sem costuras e de preferência de algodão (evitar sintéticos, como nylon); ter cuidados ao cortar as unhas para evitar lesões; não cortar calos; não caminhar descalço para evitar traumas; preferir calçados fechados e confortáveis; evitar sapatos apertados, duros, com ponta fina, saltos muito altos e sapatos abertos; ter cuidado com sapatos novos; Os danos nos nervos podem causar também mudanças na forma dos pés e dos dedos e, assim, ser necessário usar sapatos terapêuticos especiais)”, complementa.
A médica destaca também que o diabetes não é uma doença da terceira idade e que o tipo 2 da doença pode acometer qualquer idade e está relacionado ao estilo de vida (hábitos alimentares errados e sedentarismo) e com o sobrepeso e obesidade. “À medida que aumentamos o peso, aumentamos o risco de desenvolvermos pré-diabetes e, consequentemente diabetes”, diz.